sábado, 20 de julho de 2019

Tributo a Evaldo Rosa dos Santos





Tributo a Evaldo Rosa dos Santos


Foram oitenta tiros de fuzil.
Às cinco horas da tarde em ponto.
Mas todos os relógios se quebraram.
Todos os sinos se calaram.
Às cinco da tarde em ponto.
Aconteceu. Como um fenômeno da natureza.
Ninguém é culpado. Os fuzis atiraram sozinhos.
O poeta não serve para nada.
Isso é a banalidade do mal. A vida não tem importância.
Com jeito vai e sem jeito também.
Fugiu do lobo, foi devorado pelas ovelhas.
(As ovelhas atiram com fuzil.)
Solidariedade é você enfiar o dedo na minha ferida,
depois eu enfio na sua.
Ai, que terríveis cinco horas da tarde.
Todos os relógios se calaram
com os oitenta tiros de fuzil.
Nenhuma pomba branca voa mais.
Choveu na cidade como um dilúvio. Eram lágrimas.
O músico é um pássaro com a garganta cortada e canta.
O seu canto corta a pele do dia como o diamante.