Tributo a Evaldo Rosa dos Santos
Foram oitenta tiros de fuzil.
Às cinco horas da tarde em ponto.
Mas todos os relógios se
quebraram.
Todos os sinos se calaram.
Às cinco da tarde em ponto.
Aconteceu. Como um fenômeno da
natureza.
Ninguém é culpado. Os fuzis
atiraram sozinhos.
O poeta não serve para nada.
Isso é a banalidade do mal. A
vida não tem importância.
Com jeito vai e sem jeito também.
Fugiu do lobo, foi devorado pelas
ovelhas.
(As ovelhas atiram com fuzil.)
Solidariedade é você enfiar o dedo
na minha ferida,
depois eu enfio na sua.
Ai, que terríveis cinco horas da
tarde.
Todos os relógios se calaram
com os oitenta tiros de fuzil.
Nenhuma pomba branca voa mais.
Choveu na cidade como um dilúvio.
Eram lágrimas.
O músico é um pássaro com a garganta
cortada e canta.
O seu canto corta a pele do dia
como o diamante.
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