Eram
nove meninos soterrados, seis irmãos e três primos.
Mas
um tinha se salvado.
Tinha
aguentado a casa em cima,
a
casa que desbarrancou e foi levada de roldão
e
era só lama e pedras e escombros.
E
os nove meninos por baixo.
Mas
o Felipe foi achado e estava vivo,
o Felipe tinha estofa de herói.
Depois de mais quatro horas embaixo daquela
avalanche,
o Felipe foi tirado com vida.
O
que não teria acontecido lá embaixo da terra?
O
desespero daqueles meninos.
A
lama da morte entrando goela a dentro.
O
Felipe assistindo.
Os
irmãos morrendo devagar, os primos morrendo
muito
devagarinho,
com
toda a dor que a bruxa vagarosa da morte sabe dar.
E
o Felipe assistindo.
Esperando
a sua vez.
O Felipe era um herói.
E não morreu.
Os heróis não morrem nunca.
Os milagres, para os heróis, sempre
acontecem.
O Felipe assistiu, uma a uma, à morte dos
irmãos, dos primos.
O mundo desabou,
ele sustentou com a sua cabecinha frágil os
escombros do mundo.
Mas foi muito peso para a sua cabecinha
frágil.
Toda a dor do mundo, a morte daqueles
menininhos.
Toda aquela dor na sua cabecinha de nada.
Era uma cabecinha muito frágil.
A dor da morte, o peso dos escombros.
Partiu-se a cabecinha,
o seu pequenino crânio se trincou,
se quebrou como um vaso que cai.
Como um ovo jogado no chão,
a casca tão fina esmagada.
Foi
operado.
Uma
última tentativa.
Juntar
os cacos.
Como
se fosse possível juntar os cacos de um vaso quebrado.
Como
se fosse possível colar a casca esmagada de um ovo.
Inútil.
Saíra
como um herói, ostentando o estandarte da vitória.
Um
rei coroado.
Felipe
é nome de rei.
O
cavalo de Felipe relincha cavalgando livre pelas pradarias do seu
[reino.